Estamos vivendo um momento singular e muito complexo, com tudo acontecendo ao mesmo tempo, crises que são globais e afetam a cada um de nós de maneira peculiar, Covid-19, economia, política, saúde pública, racismo e por aí seguimos. Além das crises em si, temos um outro aspecto também muito preocupante e que agrava ainda mais cada cenário, o excesso de informação e a disseminação de notícias falsas.
Cada dia mais pessoas são afetadas por notícias que não são verdadeiras, as informações que sequer foram averiguadas ou tem o objetivo de confundir a sociedade. Elas chegam aos montes nas redes sociais e infelizmente são multiplicadas por um público que o faz, muitas vezes, na ingenuidade.
Dessa forma, resolvi escrever esse artigo com algumas orientações que não garantem, mas podem ajudar muitas pessoas a se informarem melhor, escolhendo com mais critério seus canais de comunicação.
Afinal, qual é o compromisso e a responsabilidade de um jornalista?
Acima de tudo o compromisso com a verdade dos fatos, e também com a apuração precisa dos acontecimentos e sua correta divulgação.
Veja que dessa forma não há nenhum compromisso com qualquer parte envolvida na notícia, autoridades, políticos, empresas ou instituições, todas elas são fontes de informação, que devem ser ouvidas, somente.
Além disso, o dever do jornalista é divulgar os fatos de interesse público, se o acontecimento não tiver essa qualificação, não vira notícia.
Podemos dar um exemplo: se sua empresa está fazendo um investimento para melhorar a fachada da fábrica, isso pode ser de interesse dos funcionários, mas com certeza não é da sociedade. Agora, se a passagem do ônibus vai aumentar, certamente é, porque mexe no bolso das pessoas.
Por isso também que as empresas que querem suas notícias divulgadas nos veículos de comunicação precisam de uma boa assessoria de imprensa para levantar acontecimentos que sejam interessantes para o jornalista noticiar.
Como confiar na veracidade das informações noticiadas?
Todas as notícias, antes de serem divulgadas, passam por verificação de fatos e dados. Os envolvidos naquele assunto devem ser ouvidos e tem a oportunidade de colocar a sua verdade. Diante de todas as evidências e checagens, o jornalista escreve a matéria, que na sequência passa pelo crivo editorial do veículo e depois é divulgada.
Mesmo sendo “aprovada” pelo editor chefe, aquela matéria é responsabilidade do jornalista, e por isso, todas as notícias são assinadas. Ele assume a total responsabilidade pela divulgação dos fatos e inclusive pode ser processado por qualquer erro que possa prejudicar alguém ou alguma instituição.
Então, o que você deve verificar nas notícias que recebe.
- São matérias assinadas
- Todas as partes envolvidas no assunto foram ouvidas
- O assunto é de interesse público
Assim, você já consegue identificar se o conteúdo é de credibilidade ou tendencioso.
A imprensa pode ter opinião?
Há muito tempo se discute se o jornalismo é imparcial. Seguindo a academia, no que tange a verificação de dados e fatos e consequentemente a produção de matérias, sim, é e deve ser. Entretanto, há outra linha de pensamento que diz ser impossível ter imparcialidade, já que o jornalista é um ser humano, com sua experiência de vida e ideologias, e que por mais imparcial que tente ser, seu texto sempre trará um viés de sua identidade. Mas, independente dos debates, podemos considerar como imparcial.
Vamos levar em conta que estamos falando de jornalistas que seguem o código de ética e os veículos de credibilidade que tem as melhores práticas. Porque também já sabemos que existe de tudo nesse mundão.
Mas, existe um lugarzinho em cada veículo de imprensa, no qual o jornal, a revista ou o site pode expressar a sua opinião, nas seções “Opinião” ou “Editorial”.
A Folha de São Paulo, por exemplo, usa o título “O que a Folha pensa”, já o Estadão e a revista Exame, utilizam “Opinião”.
E por que é importante saber sobre isso? Porque é no editorial ou na Opinião, que você pode conhecer melhor o veículo. Entender como interpretam as notícias, que viés político, econômico ou ideológico empregam, mas principalmente se você tem aderência a esse conteúdo, ou seja, se concorda com a maneira de expor os fatos.
E assim, agora você tem mais um elemento para analisar seus veículos preferidos.
Existe matéria paga?
Não existe matéria paga no jornalismo. Todo conteúdo pago é propaganda ou publicidade e dessa forma deve ser destacado.
Os veículos de imprensa têm em sua equipe duas áreas que não conversam. A redação, onde os jornalistas trabalham apurando os fatos e divulgando as notícias e a área comercial, onde os profissionais de venda e publicidade negociam os anúncios.
Da mesma forma, as empresas também têm duas áreas distintas para tratar com elas, a assessoria de imprensa que oferece pautas aos jornalistas e a agência de publicidade que trata exclusivamente com a equipe comercial.
Nenhuma mistura desses profissionais é saudável, nem para o veículo, muito menos para a marca. Se uma marca tem uma pauta interessante para oferecer ao jornalista, ela não deve “misturar as estações” e mencionar sua carteira de anúncios, como forma de moeda de troca. Isso é considerando uma ofensa grave que pode impactar de forma muito negativa futuras divulgações espontâneas.
Lembram o que falamos lá em cima? O jornalista só tem compromisso com a verdade e com seu público, então as marcas têm de trabalhar com muita seriedade pra colher bons resultados e manter sua boa reputação.
Quando eu coordenava a área de comunicação de uma grande empresa, não vou mentir, acontecia de profissionais da área comercial de pequenos veículos acionaram nossa assessoria de imprensa. É o contrário também pode acontecer. Mas as regras sempre foram claras e nossa assessoria de imprensa não podia falar com a área comercial, sendo assim, imediatamente o contato era direcionado para a agência de publicidade.
Então pra você que é leitor fique sempre atento, conteúdo pago sempre será destacado como publicidade.
Como identificar uma notícia falsa
De acordo com uma pesquisa publicada em março/2020, pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), que analisou os conteúdos publicados no Twitter, as notícias falsas têm 70% mais de probabilidade de serem retuitadas, do que notícias verdadeiras.
Então, se você levar tudo o que falamos acima em consideração para escolher seus canais de notícia de hoje em diante, as chances de receber ou se contaminar com Fake News vão cair.
Mas ainda há algumas dicas que podem ajudar.
- Cheque a fonte, veículo e jornalista que escreveu a notícia.
- Digite o título no Google e verifique se o assunto está sendo noticiado por outros veículos de credibilidade.
- Pergunte à pessoa que divulgou se ela sabe de onde veio a informação.
- Se você constatar que a notícia é falsa, não compartilhe e alerte as pessoas do seu núcleo de relacionamento.
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